O ECÓLOGO

 O motivo dessa postagem é a forma "carinhosa" como minha vó se refere à Ecologia. Tá, ela não é a única, e nem é só por causa dela, mas isso me faz ficar indignada com o fato de como ainda há uma visão vergonhosamente estereotipada e limitada do curso. Faço Ecologia na UFRN, e aprendi muito sobre o que realmente é. Nunca vi da forma como as pessoas vêem, mas mesmo assim ampliou muito a minha opinião. Quando falei que ia fazer Ecologia, meu pai disse: "Mas não vai ser ativista que abraça arvore não, né?". E minha vó o tempo todo diz que é um grande desperdício o meu esforço com algo tão pequeno.

 Pois bem, pessoas que entendem tanto sobre tudo, e que ganham tão bem com seus maravilhosos empregos, e que apenas valorizam o Kratos que passa em medicina ou em direito, devia ser um pouquinho mais inteligente quando jogam um saco de salgadinho no chão. Não to fazendo todo esse discurso só pra falar que Ecólogo estuda apenas pra se preocupar com o lixo que um porco produz, mas sim mencionar que se o infeliz soubesse todos os ciclos do ecossistema, ou pelo menos o tempo que essa porcaria demora para se degradar e o mal que ela causa, pensaria duas vezes. Um Ecólogo sabe. Mas é só isso? Não.

  Eu estou apenas no 1º período, e olha, não é fácil, tiro pelos meus queridos veteranos. Um Ecólogo tem que estudar filogenias, tem que fazer cálculos estatísticos cabulosos, tem que saber no mínimo ler em inglês, isso no começo, porque se não aprender a falar logo você é passado pra trás. Entender as relações entre os seres vivos e as consequências de tais interações. Coleta de dados intermináveis em campo e com esses dados analisar gráficos e produzir um artigo a ser publicado. Número amostral cada vez maior, local de coleta, clima, vegetação, fauna, solo e outras coisas mais. 

  Entender o local em que vivemos e os seres que o habitam não é pouca coisa, somos como engenheiros do ambiente, e tentamos cuidar da nossa casa e consertar a bosta que fizemos e e continuamos a fazer. É fácil achar que Ecologia é curso de vagabundo que só vive de abraçar árvore. Mas não acho que uma pessoa que só porque passou em medicina mereça mais respeito, sei que é mérito, pois é muito difícil, mas ecologia é um curso tão digno quanto. Ainda mais se esse médico é aquele que vai te deixar morrendo no corredor do hospital. Toda profissão merece respeito, em todas existem gente competente e gente porcaria nenhuma. 

  A senhora Rosalba Ciarlini é médica pediatra, e nem por isso deixa de ser uma péssima governadora para o RN, deixar os hospitais à míngua e querer realizar uma obra absurda de duplicação da Av. Engenheiro Roberto Freire só pra embolsar milhões e ainda destruir boa parte da reserva de Mata Atlântica do estado. E ai? Valeu a pena o majestoso curso de medicina? O vagabundo ecólogo de curso chibata fica feito um retardado votando contra a obra, para evitar uma coisa nojenta e evitar que prejudiquem parte do que resta da nossa Mata Atlântica. E a inversão de valores ai? Curso define seu valor? Acho que não.

  Abraço árvore sim, não to nem aí. E abraço principalmente meu curso com grande orgulho. Tentarei ao máximo através dele fazer o que puder pelo nosso lar. E não estou esperando agradecimento dessas pessoas que não entendem o que é ser Ecólogo com E maiúsculo, até porque elas não fazem nada pra mudar a atual situação. Mas farei, por mim, por meus filhos e netos e, por todas as vidas que são prejudicadas pela destruição do meio ambiente (embora consequentemente estaremos fazendo por  tais indivíduos também, por mais que não entendam e menosprezem isso). Acho que já é algo que merece um valorzinho, não? Não me importo se não tiver. 

  Quando olharem o rio Potengi poluído, uma mata degradada, as notícias de desastres ambientais desenfreados, de populações de animais dizimadas ou ameaçadas de extinção e essas porcarias todas, lembrem-se, tem sempre um Ecólogo vagabundo e abraçador de árvore tentando consertar. Então, um beijo e um abraço pra você que entende tanto de tudo e que sabe qual profissão ou curso merece mais valor. Todas são igualmente díginas. Só o que não é dígino de existência é a sua ignorância. 

Bruna C.